De amor e cafonice ou Ode à Portela
Portela, eu só queria dizer que te amo. Te amo por aqui e por agora. Te amo por estar no samba entoado no trem, em meu copo de cerveja quente e por Cascadura, Madureira e por todo o meu amor pelo subúrbio. A terra em que meus avós se casaram, em alguma igreja. É encontro.
Te amo, Portela, pelo momento, pelo trem do samba e pela tradição. Te amo pelo trem das onze, embora longe de São Paulo e apesar de ser quase uma da manhã. Te amo pelo samba e pelo sorrisos e olhares trocados por desconhecidos. Vários sambas cantados em uníssono enquanto o trem anda. Paisagens desconhecidas e luzes das casas acesas. Só te amo pelo encontro. Te amo porque esse trem me leva para a Central do Brasil.
Desci do 247 mais cedo, na Central, e tinha samba por todo lado. Tinha bateria, tinha várias denominações de rodas e gente sorrindo e cantando. Céu azul e expectativa. Perdi o trem das 19h, perdi a roda do Bip, mas ganhei o samba do trem da 19h24, vagão 4, Samba na Fonte. E fui cantando, aos trancos e barrancos mais incríveis que já vivi, com uma Brahma na mão até Oswaldo Cruz. “Aí Oswaldo Cruz e Madureira”, grita Gilsinho.
Lá o samba continuou. Subi a passarela, que cruzava a estação, e encontrei o Rio que eu mais gosto, tem cheiro e ar de meu lugar. Meus olhos ficaram cheios de lágrimas porque me encontro ali. Finalmente, cheguei à roda do Bip. Caldo, churrasquinho, litrão e um gatinho preto circulando de um lado para o outro. Minha paixão pelo Rio começou, sim, pela Portela. Depois que eu me apaixonei pela história da Portela, eu me apaixonei completamente pelo samba.
Tínhamos de pegar o último trem para a Central (sim o trem de volta que eu iniciei o texto), ele sairia 1h da manhã, mas entre bebedeiras e tontices, nos apressamos demais. Chegamos na estação e entramos no trem que estava na plataforma, quase fomos para o Japeri, mas descobrimos em tempo. Saímos e continuamos dançando (ou sambando mal e porcamente, no meu caso) na plataforma. Os shows do Palco Candeia ainda aconteciam. Todo mundo estava alegre ali. A porta do trem do Ramal de Santa Cruz estava prestes a fechar, mas um garoto sem camisa escolheu sair na plataforma e dançar mais e depois correu de volta para dentro.
Desgraça nenhuma, naqueles momentos, foi suficiente para não festejar seja lá o que for.
O trem da Central chegou e chegamos (voltamos) ao início cafona desse texto.